segunda-feira, 7 de março de 2011

O Livro dos Salmos

Visão geral

Autores: Moisés, Davi, Salomão, os filhos de Corá, os filhos de Asafe, Etã, o ezraíta, e vários autores desconhecidos.

Data: c. 1440-40.0 a.C.

Propósito: Prover para Israel uma coletânea de cânticos para adoração adequada para diversas situações.

Verdades fundamentais:

  • Deus merece louvor.
  • Deus protege e resgata os justos quando eles padecem necessidade.
  • Deus irá abençoar o obediente e julgar o deso­bediente.
  • A revelação de Deus deveria ser o fundamento da adoração.
  • A verdadeira adoração implica uma vasta gama de emoções que é fruto de experiências da vida.

Autoria e títulos

Título do livro

O título encontrado nas versões em portu­guês do livro, Salmos, vem da antiga tradu­ção grega do Antigo Testamento. É também o nome encontrado no Novo Testamento (Lc 20.42; 24.44; At 1.20). Esse título em grego pode ser traduzi­do por “Cânticos” e corresponde ao termo no original hebraico mizmor (traduzido por “salmo” em algumas versões bíblicas, da raiz verbal “cantar” ou “tanger um instrumento”), que ocorre freqüentemente em títulos de salmos individuais.

O título no original hebraico é “Livro de Louvores”, o que é evidente uma vez que o número dos salmos que utilizam a forma literária de lamento excede significati­vamente o dos que usam a forma literária de hino. No entanto, no final quase todos os lamentos expressam confiança no Senhor, embora, no livro como um todo, haja um movimento que se afasta da forma de lamento e se volta para um número crescente de hinos de louvor.

Títulos dos salmos individuais

Muitos dos salmos, embora nem todos, começam com títulos. A maioria das versões bíblicas não atribui um número de versículo aos títulos, dando a impressão de que esses títulos não fazem parte do texto original hebrai­co. Na verdade, no entanto, os títulos normalmente são o primeiro versículo do salmo no texto original hebraico e também aparecem na Septuaginta (a tradução grega do AT). Os títulos, portanto, ou são uma parte do texto inspi­rado ou, pelo menos, tiveram origem na tradição antiga.
Os títulos podem ser divididos em cinco tipos bá­sicos: autoria, históricos, notações musicais, gênero e instruções para o culto. E interessante observar que Hc 3 apresenta um salmo isolado que contém títulos antes e depois do texto do poema. Os títulos de auto­ria e gênero aparecem antes do salmo (Hc 3.1), mas as instruções com respeito a quem deve fazer uso do salmo (“o mestre de canto”, Hc 3.19) e da instrumenta­ção (“instrumentos de cordas”, Hc 3·.19) aparecem no final. Essa é uma indicação de que títulos semelhantes nos salmos podem fazer parte do final do salmo que precede aquele para o qual eles foram listados.

Títulos de autoria

Grande parte dos títulos relaciona o salmo a uma pessoa ou a um grupo em particular, usando uma única preposição hebraica que poderia indicar dedicação (“a Davi”), o assunto (“sobre Davi”) ou a autoria (“de Davi”). No entanto, num dos poucos títulos dos salmos que for­nece um contexto ampliado (o do Sl 18), não há dúvida de que o título tem por objetivo identificar o compositor do salmo. Davi é de longe o autor mais freqüentemente citado, sendo que a maioria de seus salmos se encontra nos dois primeiros livros (veja “Estrutura”), embora tam­bém haja uma pequena coletânea de salmos de Davi no final (Sl 138-145). A tradição que associa Davi ao can­to e à composição de salmos é tão forte que, em princí­pio, há pouco espaço para discussões sobre a sua autoria dos salmos que levam o seu nome nos títulos (veja, p. ex., 1Sm 16.14-23; 2Sm 1.17-27; cf. 2Sm 22 com Sl 18; 2Sm 23.1; 2Cr 6.31; 15.16; 16.7; Am 6.5).

Outros autores aparecem nos títulos dos salmos: Moi­sés (Sl 90), 5alomão (Sl 72), os filhos de Corá (Sl 42-49; 84-85; 87-88), os filhos de Asafe (Sl 50; 73-83) e Etã, o ezraíta (Sl 89). Um número considerável de sal­mos não informa o nome do seu autor (p. ex., Sl 1); esses são muitas vezes citados como salmos “órfãos”.

Títulos históricos

Há menos títulos históricos do que os de autoria nos salmos (veja 3; 7; 18; 30; 34; 51; 52; 54; 56; 57; 59; 60; 63; 142). A autenticidade dos títulos históricos também tem sido discutida. Não há evidência textual de que eles tenham sido acrescentados posteriormen­te. No entanto, alguns acreditam que o que parecia ser urna desarmonia entre salmo e título (como no 30) ou entre título e livros históricos (Sl 56 comparado com 1Sm 21.10-15) seja uma indicação de que sua origem é posterior e artificial. Outros argumentam que, se os títulos históricos foram acrescentados mais tarde, é pro­vável que os editores posteriores que os forneceram assegurariam uma relação estreita entre título e salmo. Por exemplo, por que um editor posterior relacionaria o Sl 30 com a consagração do templo uma vez que não há menção alguma do templo no salmo?

História e composição dos salmos

Os títulos históricos podem dar-nos uma indicação das origens dos salmos; porém, normalmente, são de pouca ajuda na interpretação. Ou seja, embora um salmo possa ter sido escrito em relação a um acon­tecimento histórico em particular, o compositor nor­malmente teve o cuidado de não ser extremamente específico no corpo do poema. Assim, embora o título do Sl 3 inclua: “Quando [Davi] fugia de Absalão, seu filho”, o salmo em si começa: “SENHOR, como tem crescido o número dos meus adversários!”, em vez de: “SENHOR, Absalão se levanta contra mim!’. Uma razão para isso é que os salmistas escreviam a sua poesia para ser usada durante à culto formal e público. Eles se certificavam doe expressar pensamentos e emoções que outras pessoas poderiam compartilhar.
Não obstante, os títulos históricos dão-nos um vis­lumbre da composição dos salmos. Também fornecem ilustrações históricas das mensagens dos salmos, uma vez que, a final de contas, os acontecimentos menciona­dos nos títulos haviam sido as motivações originais para a composição (p. ex., Sl 51 e o pecado de Davi com Bate-Seba). No entanto, não é necessário que os intér­pretes reconstruam o fundo histórico de todos os salmos (uma prática de muitos antigos comentaristas dos salmos) para fazer uma aplicação prática e uso deles.

Títulos de gênero

Inúmeros termos nos títulos classificam os salmos em diferentes tipos literários. É difícil ter uma compreensão precisa de muitos desses termos. Alguns são muito co­muns e aparecem com freqüência: mizmor (“salmo”, veja 139) e shir (“cântico”). Outros ocorrem raramente e têm um significado incerto: shiggaion (veja 7). Dois desses termos podem ocorrer num único título de salmo (veja 30). Embora essa antiga classificação seja inte­ressante, e gostaríamos de ter uma compreensão mais clara dos termos, as atuais distinções de gênero são ex­traídas do tom e do conteúdo dos salmos.

Notações musicais

Alguns dos termos que indicam gêneros também são notações musicais, especialmente mizmor (“salmo”, da raiz verbal “cantar”) e shir (“cântico”). Há outros tam­bém, muitas vezes incertos em termos de significado. Um termo comum aparece para dedicar o salmo ao mi­nistério musical do estabelecimento do culto formal (“Ao mestre de canto”, veja 140). Outros aparecem raramen­te e é provável que sejam nomes de melodias (p. ex., 60: “segundo a melodia ‘Os lírios do testemunho’”).

Outro termo aparentemente musical que ocorre com freqüência fora do título é.o termo Selá. Mais uma vez, ninguém, hoje, sabe ao certo o seu significado ou a sua função.

Instruções para o culto

Ocasionalmente, o título indica como o salmo fun­cionava: no culto formal de Israel. Os mais conhecidos desses títulos são os “cânticos de romagem” (Sl 120-134) e o cântico “para o dia de sábado” (Sl 92).

Estrutura

Durante o período do Antigo Testamen­to, de Moisés (90) ao período pós-exílio (126), novos salmos foram acrescentados ao livro de louvor. É difícil discernir a es­trutura resultante do livro. Não há um princípio univer­sal de ordem que seja explícito ao longo do livro. Não obstante, algumas características que se destacam são dignas de nota.
A tradição antiga divide o Saltério em cinco livros, que correspondem aos cinco livros de Moisés. Cada li­vro termina com uma doxologia e tem outras, caracte­rísticas que o distinguem dos outros. Há também pequenos grupos de salmos reunidos ou por autoria comum (p. ex., 73-83; pelos filhos de Asafe), uso comum (p. ex., 120-134, cânticos de ascensão) ou tema comum (p. ex., 93; 96-100). Também parece que os Sl 1-2 foram intencionalmente colocados no início do Saltério para servir como uma porta de entrada para o santuário dos Salmos, assim como os Sl 146-150 servem, no final, como uma maravilhosa doxologia, uma verdadeira pirotecnia de louvores.

Gêneros

Há 150 composições poéticas separadas no Saltério, cada uma com uma beleza e força única. No entanto, há também algumas semelhanças entre os cânticos que lhes permitem ser agrupados de diversas maneiras. Estas notas, às vezes, se referirão às seguintes classificações de gênero:

1. Hinos de louvor.Os hinos são facilmente reco­nhecidos pelo seu exuberante louvor ao Senhor. Deus é louvado por quem ele é e por suas ações de poder e mi­sericórdia. Os hinos de louvor comumente incluem os seguintes elementos: um convite ao louvor, uma razão para o louvor e uma demonstração de fé. Para exem­plos, veja Sl 8; 24; 29; 33; 47; 48.
2. Lamentos (queixas ou petições). Os lamentos estão na extremidade oposta do espectro emocional dos hi­nos. No lamento, o salmista honestamente revela a Deus os segredos mais íntimos do seu coração – um coração muitas vezes cheio de angústia, medo, amargura e/ou raiva. As petições comuns nos lamentos incluem pedi­dos para que Deus salve ou ofereça refúgio e para que se vingue dos inimigos. Na poesia hebraica, os lamen­tos normalmente incluem os seguintes elementos: um discurso a Deus, uma expressão de queixa emocional do autor, uma expressão de confiança no Senhor, um pedido de ajuda a Deus e uma expressão de louvor ao Senhor. Quando apropriado, eles muitas vezes incluíam também uma confissão de culpa. Dados esses elementos claramente básicos, não é de admirar, que os lamentos incluam grupos de versículos que soam como hinos de louvor: Para exemplos, veja Sl 25; 39; 51 ;-86; 'J 02; 120.
3. Salmos de ação de graças. Esses são entoados, apropriadamente, depois que o Senhor responde ao la­mento feito anteriormente pelo salmista. Na verdade, os três primeiros tipos de salmo formam uma espécie de tríade. O salmista entoa hinos quando está em paz com o Senhor, lamenta quando está em desarmonia com ele e dá graças quando o relacionamento é restaurado. Para exemplos, veja Sl 18; 66; 107; 118; 138.
4. Cânticos de confiança (ou fé ou misericórdia). Em­bora muitos hinos e até lamentos expressem confiança em Deus, alguns salmos são dominados por esse tema. Muitas vezes, são curtos e contêm uma notável metáfora que descreve a atitude de confiança do salmista. Para exemplos, veja Sl 23; 121; 131.

5. Salmos reais. Uma vez que Deus, o Rei do uni­verso, é o tema dos salmos e uma vez que Davi, o rei humano, é autor e tema de muitos salmos, a realeza é uma instituição e um conceito importantes no Saltério. No entanto, alguns salmos concentram-se com tanta in­tensidade ou na realeza de Deus (24; 47; 95) ou no rei humano (20; 21; 45) que se destacam dos outros.
6. Salmos de sabedoria. Quando pensamos na sa­bedoria bíblica, normalmente consideramos livros como Provérbios, Jô e Eclesiastes. Alguns dos temas nos livros de sabedoria também se destacam nos salmos de sabe­doria. Por exemplo, o forte contraste entre o justo e o ímpio que encontramos no livro de Provérbios também é proeminente no Sl 1. Para outros exemplos, veja Sl 37; 49.

Estilo poético e recursos

A poesia é uma forma de comunicação escrita que dá atenção especial ao modo como a mensagem é trans­mitida ao leitor. Os poetas gostam de usar a linguagem de um modo que amplie não somente a mente, mas também a imaginação e as emoções. Ler “O SENHOR é o meu pastor” (23.1) faz mais do que informar; evoca uma imagem mental e toca as emoções de um modo que vai além da linguagem não figurada.
Paralelismo. Esse recurso literário é de longe o mais predominante em toda a poesia hebraica. E usado para ligar palavras ou frases umas às outras a fim de dar nuança ao significado.
Acrósticos. Vale uma menção específica aqui a outro recurso literário que aparece ocasionalmente nos, sal­mos: o acróstico. Um acróstico é um relacionamento en­tre as primeiras letras de diferentes versos do versículo. Por exemplo, num acróstico baseado no alfabeto, cada verso começaria com as letras sucessivas do alfabeto. Os acrósticos também podem ser usados para formar pa­lavras ou até demonstrar unidade ao começarem cada verso com a mesma letra. Um bom exemplo de acrós­tico é o Sl 119, no qual as estrofes estão dispostas de acordo com o alfabeto hebraico, começando cada verso de uma determinada estrofe com a letra da estrofe.

A teologia dos salmos

Assim como a composição do Saltério aconteceu durante o período do Antigo Testamento como um todo, assim também a teologia do Saltério é tão abrangente como a teologia de todo o Antigo Testamento. Martinho Lutero chamou o livro dos Salmos de “uma pequena Bíblia e o sumário do Antigo Testamento”.

Nos salmos, no entanto, as verdades teológicas não são apresentadas de modo sistemático ou abstrato; as realidades transmitidas neles estão relacionadas à vida e falam no contexto da fé baseada numa aliança.
 

Cristo em Salmos

Os leitores cristãos dos Salmos vêem justa­mente Cristo revelado ao longo do Salté­rio. Todo o Antigo Testamento, incluindo o Saltério, aguardava a pessoa e a obra de Jesus, incluindo não somente aqueles associados ao seu primeiro advento, mas também aqueles que o Novo Testamento atribui à sua vinda. O próprio Jesus e os escritores do Novo Testamento fazem extenso uso dos salmos para expressar temas como o sofrimento de Jesus (p. ex., Mt 27.46) e a sua glorificação (p. ex., Mt 22.41-46). Além disso, para o cristão, Jesus se tor­na o objeto de culto do Saltério. As orações em forma de cântico dos Salmos são direcionadas a Deus. Jesus Cristo, como a segunda pessoa da Trindade, também é o objeto apropriado dos hinos e lamentos dos Sal­mos. Jesus é, ao mesmo tempo, o cantor (Hb 2.12) e o tema dos cânticos. Os que crêem em Cristo podem cantar-lhe o seu louvor (hinos), apresentar-lhe as suas queixas e petições (lamentos) e agradecer-lhe quando ele responde às suas orações (ações de graça). Além do mais, eles se lembram do que ele fez por eles na cruz (salmos de lembrança) e exaltam-no como o seu rei (salmos reais). Ele é a fonte de sua confiança (salmos de confiança) e a encarnação da sabedoria de Deus (salmos de sabedoria) .
Até os salmos que incluem imprecações, ou maldi­ções, encontram cumprimento em Cristo. Esses salmos clamam pela justificação dos justos e pelo juízo de Deus contra os ímpios (p. ex., Sl 69.22-29). Essas orações re­fletem o chamado dos israelitas à guerra santa como os instrumentos do juízo de Deus. Com a vinda de Cristo para sofrer o juízo de Deus, a natureza da guerra do povo de Deus mudou. Agora ela é mais intensa, porém dirigida, em primeiro lugar, contra “as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Quando Cristo voltar em glória, o tempo de misericórdia terá chegado ao fim e as imprecações dos salmos irão se cumprir con­tra todos os inimigos de Deus.

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª edição, 2009, SBB, Ed. Cultura Cristã.

Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org/

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