domingo, 20 de março de 2011

A escola da vida

Quando decidimos atender ao chamado divino, devemos buscar uma escola de preparação de líderes ou um centro de treinamento missionário, e muitas expectativas nos enchem o coração. Quais os conhecimentos que iremos aprender, quantas habilidades iremos adquirir? Com os conhecimentos aprendidos nos anos de preparo, estaremos aptos para enfrentar o ministério, seja assumir uma igreja ou ir ao campo missionário, assim pensamos.
Porém, queremos afirmar, que a preparação bíblica - teológica - missiológica não é suficiente para habilitar o vocacionado. Evidentemente, ela é de suma importância e ninguém deve pular esta etapa, conduzido pela pressa de assumir o ministério, pois, muito prejuízo desencadeará, tanto para o vocacionado como para a obra de Deus.
Quando dizemos que ela não é suficiente, é porque queremos lembrar que, paralelo a preparação acadêmica e ao programa de treinamento, é necessário entrar na escola da vida, no programa de  tratamento e aperfeiçoamento do caráter conforme proposta divina.
O vocacionado deve ouvir o chamado do Mestre dos mestres, ele deseja trabalhar na vida de cada um, tanto através das aulas e do contexto escolar, como através de experiências particulares que ele mesmo vai proporcionar.
Devemos estar atentos, porque lado a lado do programa curricular o divino Mestre vai levá-lo a reflexões profundas sobre você mesmo, seu ego, seu ser interior, suas vulnerabilidades e suas potencialidades. O interesse do Mestre da vida é tratar com o caráter.
Estejamos apercebidos, porque, ao estudar as Escrituras Sagradas, o Espírito Santo vai produzir em nós, uma visão nova e particular do ser divino, além dos conceitos e pressupostos teológicos. A análise e a exegese da Palavra, devem conduzir-nos a uma profunda percepção das verdades divinas que buscam encontrar forma de expressão em nossa vida. (I Tm. 1:16)
Todo sistema ensino-aprendizagem promove tarefas acadêmicas, as quais o aluno será submetido, mas há muitas lições que o divino Mestre deseja ensinar, as quais não precisam de caneta e caderno, porque elas marcarão o caráter com traços profundos que nos acompanharão por toda vida. Deus quer nos ensinar que o mais precioso, não é o que sabemos sobre Ele, mas o quanto O conhecemos na percepção da nossa interioridade.
A mensagem do cristianismo tem dois aspectos distintos: O teológico e o ético, ou seja, o ensino e o comportamento, a mensagem e a prática, (o Kerigma e a diakonia). O que Deus fez pela sua graça pelo homem e o que Deus exige do homem que se tornou objeto da graça. Deus nos chama para expressar o caráter de Cristo em todas as suas dimensões e isto significa mais do que fazer algo para Deus significa o como fazemos. Deus nos chama para expressar as virtudes do seu Filho, porque do contrário, o nosso serviço e a nossa mensagem perdem a plataforma de credibilidade.
Com a convicção do chamado divino, devemos buscar o preparo ministerial, sem deixar de centralizar e enfocar a formação do caráter como alvo prioritário. Daremos algumas razões para isso:
Primeiro, porque a proposta divina para cada um de nós, não é um "eu" melhorado, educado ou uma personalidade aperfeiçoada conforme as normas de ética e os valores da religião, é muito mais, é sermos conforme a imagem de Jesus. Esta é a proposta de Deus expressa na sua Palavra: "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu Filho... (Rm. 8:29). Para alcançarmos a perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef. 4:13). Não podemos negar a participação da família e da Igreja que nos conduzem dentro dos princípios cristãos, porém, queremos lembrar que as virtudes  que o Mestre deseja formar no vocacionado são marcas mais profundas, virtudes próprias e necessárias para quem se dispõe a assumir o ministério sagrado.  
Segundo, caráter excede a qualquer habilidade. Na didática do Mestre, há sempre uma busca de virtudes e valores morais e espirituais  que comprovam a genuína vocação.  A pesquisa promovida pela WEA (Aliança Evangélica Mundial), que trata do retorno antecipado de missionários, mostra que é necessário estar atento ao assunto, pois, dentre outras razões do retorno, 4.4%  indicam vida espiritual imatura, 7.4% problemas com colegas, 7.8%, compromisso inadequado, estes indicadores chama a nossa atenção para priorizarmos a formação do caráter, tratar o ser antes do ter (diplomas e títulos) e o  viver como discípulos de Cristo, antes de fazer grandes obras.
A formação do caráter é uma proposta desafiadora, porque além de trabalhar com o indivíduo como um ser psicosocial, afetivo e cognitivo, trabalha com um ser espiritual.
A formação do caráter, não se limita a dá uma performance nos moldes da sociedade, com os traços que delineiam os valores éticos e morais de um cidadão consciente, o nível é muito mais elevado - formar o caráter de Cristo. "(...) até que Cristo seja formado em vós. Cristo em vós, a esperança da glória." ( Gl. 4:19;Cl. 1:27).
Quantos prejuízos causados a Igreja e ao campo missionário por falta das virtudes cristãs impingidas na personalidade humana. Geralmente encontramos as pessoas se desculpando nos caracteres do seu temperamento e na forma natural de ser, como se fôssemos obra acabada. A personalidade humana é aperfeiçoável e tratável até a eternidade. Devemos dispor o nosso coração e nos colocarmos nas mãos hábeis do divino Oleiro para que  trate a personalidade e delineei os traços e a forma da sua natureza em nós.
A meta divina é nos tratar até que sejamos perfeitos, como é perfeito o nosso Pai que está nos céus. (Mt. 5:48)
Terceiro, porque a nossa vocação não se limita ao uso de habilidades técnicas, metodológicas, filosóficas, científicas ou apenas ao que se refere no mundo dos conceitos e teorias. Este, terminantemente não é o  modelo do Mestre dos mestres. Somos chamados para ensinar a Verdade que se expressa na vida, para habilitar os homens para toda boa obra, pelo ensino da Sagrada Escritura, que instrui e educa para a vida. (II Tm. 3:16-17)
Os educadores como Paulo Freire, Vigosky e outros já esbravejaram no mundo indicando que a educação se dá no contexto da vida, na dimensão do cognitivo, afetivo e volitivo. Somos tendentes a apelar para a razão como se caracterizava a educação medieval. "O conhecimento adquirido era comprovado pelo conhecimento exposto." Hoje, a educação busca provar o conhecimento pela experiência vivida. A Escritura nunca foi diferente, a ortopraxis autentica o ensino ortodoxo dos arcanos divinos que são preceitos de conduta e vida.
Quando Deus vocaciona alguém, Ele planeja tratar a vida como um todo. Informações limitam a personalidade humana apenas à mente e nega a inteligência emocional e a  integralidade do ser  criado a semelhança do Deus trino.
A formação do caráter cristão  deve ter prioridade na proposta de vida de todo aquele que se dispõe para o serviço ministerial. Que cada um se matricule na escola da vida e se submeta ao tratamento do Mestre. Busque os programas de preparação pastoral ou missionária que estejam atrelados à didática do Mestre, a única forma eficiente de torná-los "obreiros que não tenham de que se envergonhar, e habilitados para manejar bem a Palavra da Verdade." (IITm. 2:15)  

Durvalina Barreto Bezerra é teóloga pelo Seminário Betel. Missióloga pelo Centro de Treinamento da WEC-AMEM, na Austrália. Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação pela Universidade Mackenzie. Vice-presidente da AME - Associação Missão Esperança, integrante da diretoria da Missão Antioquia. Diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo e Coordenadora Geral do Ensino do Instituto Bíblico Betel Brasileiro. Professora nos Centros de Preparo Missionário da Missão Juvep - Juventude Evangélica Paraibana, Missão Priscila e Áquila e Jami - Junta Administrativa de Missões. Conferencista internacional.

Seminário Teológico do Betel Brasileiro
Rua São Bento 545, 1ª s/l  São Paulo - SP
Fone: ( 11)  3105.5845 - 3105.5552

Foto: Olhares.com


Via: www.guiame.com.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário