Por rev. Charles Melo*
O
projeto de lei que proíbe a palmada dos pais nos filhos foi aprovado
hoje (14/12) na Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados para
analisar a matéria. Agora o projeto de lei que proíbe a palmada irá
direto para votação no Senado, a não ser que haja recurso de, pelo
menos, 10% dos deputados, para que a matéria seja discutida no plenário.
O
projeto possui muitos equívocos, o que pode ser percebido a partir das
palavras dos debatedores, especialmente os que são favoráveis à
proibição. A relatora da Comissão, deputada Érika Kokay (PT- DF), disse o
seguinte, de acordo com matéria do site G1: “Educar batendo traz
transtornos e consequências graves à vítima da violência para o resto da
vida. Não se trata de impedir que os pais imponham limites aos filhos,
mas sim que esses limites não sejam impostos por meio de agressões. Com a
lei, as famílias vão formar pessoas mais íntegras e honestas, porque
você elimina a relação do forte dominar o mais fraco. Quem é agredido
aprende a resolver conflitos através da violência e a subjugar o mais
fraco”.
Como
um cidadão cristão, que tem direito de seguir a um padrão ou regra de
fé e prá-tica, no meu caso, a Bíblia, discordo veementemente da
deputada. Ela falha porque possui uma noção equivocada do princípio da
disciplina doméstica. Se o ser humano fosse puro e bom em sua natureza e
não demonstrasse desvios no caráter desde a mais tenra idade, tudo bem,
mas não é o caso. Note que ninguém ensina a uma crian-ça a fazer birra
ou manha; ela já nasce pecadora e tendendo ao erro. Por essa razão, a
disciplina é, na realidade, um gesto de amor, quando aplicada
corretamente. A “pal-mada” é necessária para que a criança não seja
entregue a si mesma, porque ela tem maldade suficiente em seu ser para
se acostumar a desobedecer regras, desrespeitar autoridades e
ultrapassar os limites. “A estultícia está ligada ao coração do menino;
mas a vara da correção a afugentará dele” (Pv 22.15). A criança entregue
a si mesma se revolta primeiro contra os próprios pais. A Bíblia diz:
“A vara e a repreensão dão sabedoria; mas a criança entregue a si mesma
envergonha a sua mãe” (Pv 29.15).
Se
este projeto passar e a lei pegar, o que teremos no Brasil não é o que a
deputada espera. Teremos jovens delinquentes e incontroláveis, escalada
da violência, desacato a autoridades e uso crescente de drogas. Pense
comigo: quem são os tendenciosos à violência na escola? São as crianças
disciplinadas desde cedo ou as que não recebem limites nem disciplina
dos pais? Entendo a preocupação do governo, ainda mais quan-do penso nas
crianças que apanham em demasia dos pais. A Bíblia fala do uso da vara,
mas não com exagero: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas
não te exce-das a ponto de matá-lo” (Pv 19.18).
A
fim de evitar o erro nessa questão, Paulo orientou aos pais: “E vós,
pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e
na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Calvino disse que o excesso de rigor
na disciplina provoca a ira dos filhos. A preferência de um em
detrimento dos outros também. William Hendriksen, comentando a mesma
passagem, fala ainda do mau exemplo, o famoso “faça o que eu mando; não
faça o que eu faço”, como fator que provoca a ira dos filhos. Em vez de
provocar a ira dos filhos, a Bíblia instrui os pais a criarem (nutrirem,
promoverem o crescimento – o amor está implícito) seus filhos com uma
dinâmica interessante: equilíbrio entre correção (paidéia) e conversa
(parakaléo). Converse com seu filho para prevenir futuros e possíveis
erros. Instrua mediante a constante conversa (Dt 6.5-9). Mas quando o
filho errar e uma conversa for pouco (por exemplo, mentira, desrespeito,
desobediência, imoralidade, desonestidade são faltas passíveis de
punição com vara em minha casa), a disciplina corretiva deve ser usada.
O
governo insiste em dizer que o ato de bater no filho é ato de
violência. Primeiro, se a disciplina for praticada com amor, sem raiva,
com a Palavra de Deus, com exortação, não caracterizará a violência
denunciada. Disciplina é um gesto de amor: “O que retém a vara aborrece a
seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24). O texto diz
que o que não disciplina, na verdade não ama a seu filho. A minha pouca
experiência tem mostrado o contrário do que falam. Toda vez que
disciplino meus filhos, eles se voltam para mim em arrependimento e
sempre me abraçam depois. A disciplina possui um valor eterno para a
criança: “Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu
com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a
sua alma do inferno” (Pv 23.13,14).
A
relatora da comissão disse que “o projeto não prevê interferência do
Estado na família”. Como? Me pergunto. Querem aprovar uma lei no meu
país que me proíbe de dar uma varadinha no meu filho se eu, pai,
responsável por ele, dentro do meu papel educativo e familiar, entender
que a varadinha é necessária para moldar seu caráter pecaminoso. Se isso
não é interferência do Estado em minha família, é o quê, então?
Concordo com o Deputado Jair Bolsonaro, que afirmou que o projeto de lei
representa interferência do Estado na família.
Agora
só me resta esperar que um recurso seja impetrado para que a discussão
seja mais ampla no plenário da Câmara dos Depu-tados. Ainda assim, se
passar, há esperança de que o Senado barre esta excrescência, se bem que
a tendência por lá é de irem mesmo contra a Bíblia. A eles mando meu
recado, embora saiba que não lerão este texto: “Quem ama a disciplina
ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido” (Pv
12.1). Antes que me acusem de difamador, não fui eu quem disse isso; foi
o Todo-Poderoso, Criador e justo Juiz de toda a terra, que inspirou a
Bíblia e manifesta sua vontade através dela.
Rev. Charles Melo é pastor na 6º Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte (MG).
FONTE:ipb.org.br
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