terça-feira, 19 de abril de 2011

Morto por não recitar “AVE MARIA” ao estilo romano


Morto por não recitar “AVE MARIA” ao estilo romano:
Narração do Cruel Trato e Queima de Nicholas Burton, um Mercador Inglês na Espanha
por
John Fox

No dia 5 de novembro de 1560, o Sr. Nicholas Burton, cidadão e mercador de Londres, que vivia de maneira pacífica e aprazível na paróquia de São Bartolomeu, ao achar-se na cidade de Cádiz, em Andaluzia, Espanha, a cuidar de suas atividades comerciais, acolheu em sua casa um Judas, ou, como são chamados, um familiar dos padres da Inquisição. Este, ao chamar Nicholas Burton, fingiu ter uma carta para entregar-lhe, apenas para poder falar-lhe pessoalmente. Como não tivesse carta alguma, continuou a fingir, com a habilidade que lhe dera o diabo. Disse a Nicholas que tinha uma carga para ser levada a Londres, num dos barcos que o próprio Nicholas fretara para suas mercadorias. A intenção do Judas era descobrir onde Nicholas embarcava as mercadorias e, principalmente, fazê-lo demorar até que chegasse o sargento da Inquisição, enviado para prendê-lo.
Ao ser preso, ciente de que não podiam acusá-lo de haver escrito, falado ou feito coisa alguma naquele país contra as leis eclesiásticas ou temporais do reino, Nicholas perguntou-lhes abertamente de que o acusavam para ser preso assim, pois, conhecedor de sua acusação, provaria sua inocência. Contudo, nada lhe disseram, a não ser ordenar, com ameaças, que se calasse e que não lhes dirigisse a palavra.
Levaram-no ao imundo cárcere de Cádiz, onde ficou acorrentado quatorze dias entre os ladrões.
Durante os dias que aí passou, ao usar o bom talento que Deus lhe outorgara, e o seu conhecimento do castelhano, instruiu os pobres prisioneiros na Palavra de Deus. Naquele breve período de tempo levou vários daqueles espanhóis supersticiosos e ignorantes a abraçar a Palavra de Deus, e a deixar suas tradições papistas.
Ao saber disso, os oficiais da Inquisição levaram-no dali, acorrentado, à cidade de Sevilha, para um cárcere mais cruel e apinhado, chamado Triana. Neste lugar, os padres da Inquisição procederam contra ele em segredo, com sua usual e cruel tirania, e nunca lhe permitiram comunicar-se com as pessoas de sua nação, nem por escrito, nem pessoalmente. Por isso, desconhecemos, até o dia de hoje, o seu acusador.
No dia 20 de dezembro, levaram Nicholas Burton, com um grande grupo que se achava preso por professar a verdadeira religião cristã, à cidade de Sevilha, num lugar onde os inquisidores sentaram-se num tribunal chamado por eles de auto. Haviam-no vestido com um sambenit o, espécie de túnica toda decorada com imagens de um grande demônio que atormentava uma alma numa chama de fogo. Em sua cabeça puseram um capuz com o mesmo emblema.
Um aparelho posto em sua boca forçava-lhe a língua para fora, pressionando-a, para que não pudesse dirigir a palavra a alguém; evitavam assim que ele expressasse sua fé ou consciência. Foi posto junto a outro inglês de Southampton, e a vários outros condenados por causas religiosas, tanto franceses como espanhóis, em um palanque diante da estabelecida inquisição, onde leram e pronunciaram, contra eles, seus juízos e sentenças.
Imediatamente após o pronunciamento das sentenças, foram levados dali ao lugar da execução, fora da cidade, onde os queimaram cruelmente. Deus seja louvado pela firme fé destes mártires.
Nicholas Burton mostrou um rosto tão radiante em meio às chamas, e aceitou a morte com tal paciência e gozo, que seus atormentadores e inimigos ali presentes disseram que o diabo já havia lhe tomado a alma antes de chegar ao fogo, a fim de fazê-lo perder a sensibilidade ao sofrimento.
Após a prisão de Nicholas Burton, todos os bens e mercadorias trazidos com ele à Espanha, para o comércio, foram confiscados, de acordo com o hábito dos inquisidores. Entre o que tomaram, muita mercadoria pertencia a outro mercador inglês, que a havia encomendado a Nicholas. Quando este mercador soube que seu colega de profissão estava preso, e seus bens confiscados, enviou seu advogado à Espanha, com poderes para reclamar e trazer o que lhe pertencia. O nome do advogado era John Fronton, cidadão de Bristol.
Quando o advogado desembarcou em Sevilha, mostrou todas as cartas e documentos na casa santa, e solicitou que as mercadorias fossem devolvidas, responderam-lhe que teria de fazer um pedido por escrito e constituir um advogado. (Tudo isso para atrasá-lo). Eles mesmos concederam-lhe imediatamente um advogado para lhe redigir a súplica e outros documentos de petição, que deveria exibir ante o santo tribunal, e cobraram oito pesos por cada documento. Contudo, não dispensaram a menor atenção a seus papéis, como se nada houvesse sido entregue. Durante três ou quatro meses, este homem dirigiu-se cada manhã e tarde ao palácio do Inquisidor, a fim de implorar de joelhos que atendessem ao seu pedido. Rogou especialmente ao bispo de Tarragona, que era naqueles tempos o chefe da Inquisição em Sevilha, para que ele, por meio de sua autoridade absoluta, ordenasse a plena restituição dos bens. Porém, a quantia era tão enorme e suculenta, que se tornava difícil desprender-se dela.
Finalmente, após quatro meses inteiros de pleitos e súplicas, e sem esperança alguma, recebeu deles a resposta que deveria apresentar melhores evidências e trazer certificados mais completos da Inglaterra, como prova de sua demanda. Partiu então para Londres, e rapidamente voltou a Sevilha com as mais amplas e completas cartas de testemunho e certificados, conforme haviam pedido, e apresentou todos estes documentos diante do tribunal.
Não obstante, os inquisidores continuavam a evitá-lo, e desculpavam-se por falta de tempo devido a assuntos mais graves, e, com respostas desta espécie, esquivaram-se por quatro meses.
Com o seu dinheiro quase todo gasto, o demandante procurava intensamente ser atendido. Passaram toda a questão ao bispo, que, ao ser por ele abordado, respondeu: “Pelo que me diz respeito, sei o que fazer; porém, sou apenas um homem, e a decisão não pertence só a mim, mas a outros comissionados”. Assim, por ser o assunto empurrado de um para outro, o requerente não pôde obter sua demanda. Todavia, por causa de sua importunação, disseram-lhe que haviam decidido atendê-lo.
E aconteceu assim: um dos inquisidores, chamado Gasco, homem bem experimentado nestas práticas, pediu ao requerente que se reunisse com eles após a refeição.
Aquele homem sentiu-se feliz em ouvir as novas, confiante que iriam entregar-lhe as mercadorias, e que o haviam chamado para falar com o encarcerado, a fim de conferenciarem sobre suas contas, com o intuito de resolverem o mal entendido. Quando ouviu os inquisidores dizer que seria necessário falar com o preso, ficou mais convencido de que, ao final, atuariam de boa fé. Assim, ao cair da tarde, foi até lá. Tão logo chegou, entregaram-no ao carcereiro para ser trancado na masmorra.
O requerente, que a princípio imaginara haver sido chamado para outra coisa, ao ver-se trancado numa escura masmorra, concluiu, finalmente, que as coisas não eram como pensara. 
Porém, dentro de dois ou três dias, foi levado ao tribunal, onde voltou a pedir seus bens. Por tratar-se de algo que não aparentava algo de grave, convidaram-no a recitar a “Ave Maria”: Ave Maria Gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui Jesus. Amen.
A oração foi escrita palavra por palavra, conforme ele a pronunciara. Sem mais tocar no assunto de seus bens, pois já era desnecessário, mandaram-no de volta ao cárcere, e iniciaram contra ele um processo, a fim de considerá-lo herege, por não haver recitado a Ave Maria da forma romana, e terminado de maneira muito suspeita, uma vez que deveria ter acrescentado ao final: Sancta Maria mater Dei, ora pronobis peccatoribus. Por omitir este final, dera evidências suficientes (disseram eles) de não admitir a mediação dos santos.
Suscitaram então um processo para detê-lo no cárcere por mais tempo. Seu caso, assim disfarçado, foi levado ao tribunal, e aí pronunciou-se a sua sentença: Deveria perder todos os bens que havia reclamado, apesar de não serem seus, e, além disso, sofreria um ano no cárcere.
MarK Brughes, inglês e patrono de um navio inglês chamado Minion, foi queimado em uma cidade de Portugal.
Willian Hoker, jovem de dezesseis anos, inglês, foi apedrejado até a morte por alguns jovens da cidade de Sevilha, pela mesma causa.

Fonte: Livro dos Mártires Cristãos (monergismo.net.br)

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